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sexta-feira, 3 de junho de 2011
'A solução para a arquitectura portuguesa é emigrar', diz Souto de Moura
O arquitecto Eduardo Souto de Moura, Prémio Pritzker 2011, afirmou hoje que «a solução para a arquitectura portuguesa é emigrar», face à crise social e económica no país, e que as oportunidades estão agora nos países emergentes.
«Com dez séculos de história, Portugal encontra-se hoje numa crise social e económica, como já aconteceu em vários períodos anteriores. Hoje como ontem, a solução para a arquitectura portuguesa é emigrar», disse o arquitecto, na cerimónia em que recebeu o 'Nobel da Arquitectura' deste ano em Washington DC.
Souto de Moura citou o intelectual francês Paul Claudel para dizer que «Portugal é um país em viagem» e que os conceitos de mudança e a oportunidade fazem parte da etimologia da palavra 'crise' em grego e chinês, respectivamente.
«Em África e noutras economias emergentes não nos faltarão essas oportunidades. O futuro é já aí», adiantou.
O arquitecto português foi aplaudido de pé pela audiência de perto de 400 pessoas, em que estavam o secretário da Educação norte-americano, além de muitos colegas de profissão como Frank Ghery, também um prémio Pritzker.
Souto de Moura evocou as suas raízes na arquitectura, ao lado de Siza Vieira, o primeiro Pritzker português, no pós-25 de Abril, e a forma como a realidade do país de então acabou por ditar o seu trabalho e de outros colegas de profissão.
«Depois da revolução e restabelecida a democracia abriu-se a oportunidade de redesenhar um país onde faltavam escolas, hospitais, outros equipamentos e sobretudo meio milhão de casas», disse Souto de Moura.
«Seria uma perda de energia» construir em tão grande quantidade «com frontões e colunas», como ditavam os moldes do pós-modernismo, que já tinha exemplares em Portugal, portanto foi preciso ir beber ao estilo modernista, que pouco tinha passado pelo país.
«Precisávamos de uma linguagem clara, simples e pragmática para reconstruir um país, uma cultura, e ninguém melhor do que o proibido movimento moderno poderia responder a esse desafio», defendeu.
Mais do que a ideologia, era preciso «coerência entre matéria, sistema construtivo e linguagem» e foi o holandês Mies van der Rohe quem abriu à sua geração «as portas na redefinição da disciplina até aí tão massacrada pela linguística, semiótica, semiologia e outras ciências afins».
«O importante era que a arquitectura fosse construção. Assim nos pedia com urgência o país», adiantou.
Souto de Moura evocou também as suas raízes no Porto e ao lado de Siza Vieira, de onde saiu para criar o seu próprio atelier e linguagem para que não houvesse «traição».
«Mesmo que o quisesse fazer, não conseguia [imitá-lo] por pudor», afirmou.
«Não só pela arquitectura, mas sobretudo pela pessoa [de Siza] em si, foi uma experiencia excepcional, que ainda hoje continuo a fazer com prazer», adiantou o arquitecto portuense.
Souto de Moura recuou mesmo às suas origens no Porto, revelando que decidiu ser arquitecto no liceu, no meio de uma crise de fé.
«Não é que tivesse alguma paixão especial pela disciplina, mas na crise agnóstica dos quinze anos duvidei se Deus devia ter descansado ao sétimo dia», gracejou.
Com o Pritzker, o arquitecto figura agora ao lado de grandes nomes como Frank Gehry, Óscar Niemayer ou Jean Nouvel.
Fonte: Lusa/SOL
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