sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Caso de Estudo - Academia das Ciências da Califórnia (Renzo Piano)

 

Um telhado vivo, ondulado com colinas que se integram na paisagem do Parque Golden Gate em São Francisco, cobre desde o fim do mês passado o novo complexo da Academia das Ciências da Califórnia.

Inesperado, refrescante, elegante e verde, o edifício é presenteado com esta solução, que deixa pensar que aquela gigantesca massa rectilínea podia ter emergido da terra, deixando o solo, impecavelmente cuidado, a cobrir o que afinal é uma obra de arte da arquitectura e também da construção com preocupações de sustentabilidade ambiental.
Afinal, é esta a ideia do autor do projecto, o arquitecto italiano Renzo Piano (Prémio Pritzker em 1998), em colaboração com uma empresa de São Francisco. "É como elevar uma parte do parque e pôr um edifício debaixo dele", disse à Academia.


O novo edifício alberga múltiplos locais, que podem também ser vistos como diferentes edifícios e poderiam de facto sê-lo, dada a área do complexo, com cerca de um hectare, a história da Academia e a singular concepção do conjunto que reúne sob um único tecto um grande aquário, um planetário, um museu de história natural, uma floresta tropical com quatro pisos de acesso, envolta numa esfera de vidro, entre outras instalações.


Uma visita ao site da Academia deixa perceber que o momento é, obviamente, de festa para esta instituição, que assume como missão "explicar, explorar e proteger o mundo natural". O edifício inaugurado no passado dia 27 de Setembro coroa um trabalho de quase dez anos que custou 500 milhões de dólares (362 milhões de euros) e vai alojar também o seu quadro de cientistas, um serviço de educação com "um vasto leque de serviços para estudantes e professores, uma biblioteca científica com mais de 20 milhões de livros e exemplares do mundo natural".

Mas é aquela cobertura, aquele telhado vivo, com sete polegadas de terra que suporta vegetação nativa da Califórnia, a grande marca do edifício e a peça-chave para a leitura do conjunto na paisagem envolvente. A nova Academia ergue-se no mesmo local onde estava a antiga, com 11 edifícios construídos entre 1916 e 1991, que na sua maioria foram demolidos.
E foi quando Renzo Piano subiu a um deles, depois de ter caminhado um pouco pelo parque, no ano 2000, que teve a visão inspiradora do tecto agora existente, segundo contou à Vanity Fair de Maio.

Nesse dia, apresentou ao quadro de curadores da Academia apenas um esquiço com algumas linhas curvas verdes, como se fossem colinas, sobre uma linha direita, que representava o solo, conta ainda a revista. Ganhou o projecto.

E a partir daí desenvolveu-se o trabalho que originou a estrutura actual, como se pode ver no site do Renzo Piano Building Workshop, o seu atelier.

Há clarabóias em forma de vigias numa cobertura circundada por uma pala que bordeja todo o edifício e, através de 60 mil células fotovoltaicas, lhe fornece sombra e energia solar para cerca de dez por cento das suas necessidades.
No centro, uma grande clarabóia rectangular com um aspecto de teia de aranha devido à estrutura metálica onde se apoia permite iluminar naturalmente a praça central do complexo, que vive também muito à base de vidro. Num dos lados da cobertura, está à disposição dos visitantes um terraço para apreciarem a paisagem.

A sustentabilidade do ponto de vista ambiental foi uma das preocupações fortes, levada a níveis invulgares. Por isso, as paredes exteriores são totalmente em vidro, com menos chumbo do que o habitual para ser ainda mais transparente, permitindo que 90 por cento dos gabinetes no interior usem luz natural.


Os requintes a este nível são muitos. Renzo Piano sempre quis fazer um edifício sem ar condicionado, segundo conta o site Tree Hugger. E desta vez realizou quase integralmente esse desejo, pois grandes áreas do edifício têm ventilação natural em vez de ar condicionado. Um sofisticado sistema de sensores atmosféricos diz a um computador central que janelas abrir e fechar, as clarabóias em forma de vigia abrem automaticamente quando é necessário escoar ar quente do recinto e o próprio desenho ondulado do telhado leva ar fresco ao pátio no centro do edifício. É assim que o principal piso de acesso público, que envolve os vários recintos expositivos, tem apenas ventilação natural.


Há também uma "escolha cuidadosa de materiais" (pedra calcária, betão arquitectónico, aço, alumínio e vidro extratransparente) e sistemas de aproveitamento de água. Por exemplo, quando a cobertura estiver saturada, a água excedente é canalizada para o solo do parque.
A Academia tem aliás em curso o processo de acreditação no nível de Platina do Comité de Edifícios Verdes dos EUA, o mais elevado de quatro níveis. "O edifício tinha de ser verde e sustentável para estar de acordo com a sua finalidade o estudo da Terra e a ciência.

Também está num local muito invulgar, no meio de um dos parques mais bonitos do mundo. Quase nunca é possível construir no meio de um grande parque, por isso era preciso que fosse transparente. As pessoas precisam de ver onde estão", disse o arquitecto também à Vanity Fair.

 

Por: Paulo Miguel Madeira (Público)

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