As empresas que apostam nestes projectos garantem que permitem casas mais baratas, com melhor ambiente interior. Além disso, tornam a construção mais ecológica.
Construir uma casa utilizando nas paredes e pavimentos materiais naturais como argila, palha, ramos de urze, videira ou cerejeira e, para o isolamento, lã de ovelha ou casca de arroz, é uma realidade em Portugal. Os casos de habitações construídas ou reabilitadas recorrendo a estes materiais encontram-se em todo o País, desde a Quinta do Lago, Tavira, Porto, Foz Côa, São João da Pesqueira ou Resende. Casos que têm em comum o facto de serem executados por empresas lideradas por jovens empreendedores, alguns deles arquitectos da nova geração.
Uma dessas empresas, sedeada no Porto, é a Skrei - Oficina de Arquitectos e Artesãos, gerida por Francisco Adão da Fonseca e Pedro Jervell. Outra empresa, em Tavira, no Algarve, é a Casa da Cor, liderada pelo alemão Joachim Reinecke, que elegeu Portugal como país do coração. Ambas abrangem toda a cadeia da construção de casas, desde os laboratórios de preparação de materiais, à parte de projecto e arquitectura e à execução da obra. A Casa da Cor também comercializa, através da loja embarro (www.embarro.pt), as argamassas, tintas em barro e outros materiais "para as patologias típicas dos edifícios algarvios", adiantou Joachim Reineck.
A primeira ideia forte deixada por estes empresários é a convicção de que o país podia resolver algumas das debilidades económicas e sociais se optasse pela utilização massiva destas matérias-primas naturais, que se encontram em abundância nas diversas regiões e que, desta forma, impulsionariam uma indústria local.
Na prática, seria voltar à construção tradicional, usando materiais naturais mas com recurso às novas técnicas construtivas actuais. Ou seja, substituir o cimento e as tintas - que segundo estes responsáveis não permitem que as paredesrespirem e são responsáveis pela acumulação de humidades e fungos e das doenças associadas - "pelas argilas, que em Portugal existem em variadíssimas e bonitas tonalidades, que dispensam as pinturas finais", explica Francisco Adão da Fonseca, administrador da Skrei. Desta forma, a construção com os materiais naturais permitirá diminuir o custo final da construção, melhorar o ambiente do interior das casas e tornar a construção realmente ecológica.
As construções e os preços
"Conseguimos fazer casas a 2.500 euros o metro quadrado (m2), utilizando a madeira revestida no exterior pela cal e no interior pela argila", refere Francisco Adão da Fonseca. Contudo, ressalva o mesmo responsável, algumas das reabilitações que estão a fazer agora mais se "comparam a obras de joalharia e, por isso, os preços sobem para cinco mil a seis mil euros por m2".
Ainda assim, para Adão da Fonseca, os preços finais podem ser inferiores aos praticados na construção civil normal quando esta indústria estiver num patamar de evolução superior. Uma opinião partilhada por Joachim Reinecke, que alerta para o facto de as reabilitações continuarem a ser mais caras que a construção nova.
Três empresas especializadas em materiais tradicionais:
Skrei: Usa a argila multicolor
Situada na Ribeira do Douro, foi criada há pouco mais de um ano. Neste momento, está a terminar a reconstrução de uma casa em Caldas de Aregos, Resende, e tem outra em execução em Foz Côa. Além disso, vai iniciar a construção de uma casa nova em S. João da Pesqueira e uma outra renovação na Avenida Brasil, no Porto. A empresa tem feito obras de reabilitação de lojas, utilizando os materiais tradicionais.
Casa da Cor: Arte nas tintas de barro
Um dos cartões de visita da empresa Casa da Cor é a renovação do espaço de lazer Casa Beleza do Sul, no centro de Tavira. Mas há mais. A empresa tem outros projectos terminados recentemente, como a reabilitação de uma casa na Quinta do Lago, no Algarve, e mais duas reabilitações no centro de Tavira. Em breve, arranca a reabilitação de um centro de meditação, com 600 metros quadrados, em Boliqueime.
Tamera: Fardos de palha e argila
O Centro de Pesquisa para a Paz de Tamera, junto a Odemira, no Alentejo, é o maior edifício da Península Ibérica construído em fardos de palha e argila. Tem um auditório de 300 lugares e as paredes têm oito metros de altura. Além disso, o telhado ‘verde' e as paredes exteriores cor de terra fazem com que o edifício se enquadre de forma harmoniosa na paisagem - como se tivesse um disfarce de invisibilidade.
Fonte: Elisabete Soares
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